sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Inconvenientemente



Tenho a boca tão cheia de sinceridades, que ser bem educada só seria possível se eu fosse muda. Preciso falar, e falo de boca cheia, por isso até o meu “Bom Dia” te deprime.  
A verdade não é só para quem deseja ser bom, correto, íntegro, justo ou apenas chato. A verdade já carrega todo amor, ódio, ironia e inconveniência que nossas vidas poderiam suportar. E muitos não suportam.

A mesma verdade que me faz ser grossa, me faz ser boba; me arma para longas batalhas e me faz nua, vulnerável; me faz ter amigos e também opostos, sempre tão dispostos a contradizer minhas verdades, quem sabe até inventando outras verdades, logo assim, mentindo. Esses estão entre os que não suportaram.

Me perco na tenuidade entre a verdade e a sinceridade – Que são coisas completamente diferentes  –.  Existem verdades que perduram desde o início do século, desde a criação do homem, desde ontem... Mas sinceridade sempre foi momentânea. É o que sentimos e achamos, é um impulso bruto, que também nem todos sabem controlar ou expressar.
Isso explica tantos “eu te amo” que não são amor, tantos “pra sempre” que não viraram nem a esquina. A eternidade e o amor são verdades que surgem de sinceridades que foram cultivadas. Havia sinceridade mas não todo o amor necessário para desenvolver a verdade que a eternidade precisa. Saudade é uma velha sinceridade aflita, esquecida, que chora por saber que é capaz de esquecer.

Mas tudo isso cansa. Ser sincero perde um pouco do sentido quando o tempo é quem faz as verdades. Mas é importante ser, porque mesmo que muito mais da metade de toda sua sinceridade vá ser perdida, são pequenas sinceridades, criadas com carinho, que se tornam verdades inteiras. Mentiras não tem derivações, pequenas ou grandes, aprimoradas ou desculpadas, ainda são mentiras. E omitir o que se sente não é mentir, é não ser sincero, é não acreditar que o tempo seja capaz de trazer uma verdade a ti.

Sou inconvenientemente sincera, esbanjo meu otimismo em todo canto esperando que germine coisa boa. Mas não estaria sendo sincera se dissesse que sou verdadeira, não o tempo todo, porque quem vive para colher verdades, sabe que a verdade dói muito mais do que cura. E eu, ás vezes, sou umas dessas que não suportam muito.

– Ully Stella

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