quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cleptomaníaco De Olhares





O mundo pode ser seu
você só deve ser ou estar
porque o belo te elegeu
para se mostrar” Calcanhotto








Cleptomaníaco de olhares. De nada te serve meu olhar, mas insiste em me roubar. Eu poderia estar olhando agora para toda essa gente desinteressante e comum, e você vem de algum Oasis só para me seqüestrar do cotidiano. Meus hormônios estão histéricos por tua causa. Te querem de forma impessoal e inapropriada para esse ambiente. Não querem saber teu nome, idade, telefone, se é judeu, ateu ou gay; Te querem... em cima, em baixo, dentro e bem longe de mim. Meus olhos antes desatentos, agora só sabem te atentar, te perseguir. Meu olfato me suplica teu cheiro de novo, meu tato se apaixonou pelo teu couro e eu faço um esforço sobrenatural para manter a minha boca fechada, para não babar um mar inteiro de vontade de você.

Me diz, como é ser você? Como é ser um sonho? Como é acordar e saber que tem pessoas que pagariam cada respiração tua ao lado delas? Como é mover pescoços desconhecidos para você só de você existir e andar por ai?

Já percebeu que quando você quer sair dos lugares, as pessoas em volta se revoltam, brigam, gritam... elas sabem (como eu), que você deveria estar em algum trono como imperador do reino dos belos, ou preso em alguma pintura secular que vale bilhões. Mas não, você esta ali, mistificando um dia dos nossos miseráveis dia-a-dia, assombrando a idéia que tínhamos sobre beleza até você chegar debochando da forma que nos esforçamos para ficar um pouco mais bonitos.

Não me olhe, não acene, não me chame para sentar com você... Não tenho absolutamente nada que eu queira te dizer. Mas te levaria para dançar um tango, te faria mágicas, ouviria cada desafino do teu violão suspirando forte para não morrer sufocada. Me temperaria ao seu gosto, serviria quente, com uma piscadela e sugerindo que não esperasse esfriar. Te queria enquanto uma lua dura no céu de uma noite. Depois? Depois suma! Suma antes do sol aparecer, me deixe dormindo, acordarei de um sonho para chorar baixinho uma ilusão. Suma mesmo querendo ficar, porque eu não quero me acostumar com a tua beleza e na semana seguinte ela me parecer normal.

Fiz uma visita a outro país, fui mais uma turista no museu, a contemplar aquela pintura que só é publica porque ninguém tem dinheiro suficiente para comprá-la. Te olhei com pressa e infinitamente, morrendo de medo de perder algum detalhe seu, jurando gravar na memória a vida inteira, minha paixão por aquela obra que Deus fez num dia em que acordou de bom humor. E fui embora... Peguei o avião da imaginação de volta para o cotidiano. Sei que tentarei por alguns dias ou meses calar a vontade de ser coincidência só para te ver novo. Mesmo sabendo que a graça que sustenta todo sonho é só essa vontade, que quando conquistada, pode banalizar todo o resto.


– Ully Stella

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