quarta-feira, 23 de novembro de 2011

(sus)pirando

Ela suspirava muito alto, vezes seguidas. Insatisfação.  A consciência latejava como pés que andaram demais.
Mordo minha língua. Enlouqueço de dor. Choro. Raiva.

- "Bebe um café quente para adormecer a língua."

Penso se existe alguma coisa quente que adormecesse a mente. Esqueço. Bebo. Engasgo. Tosse... Morrerei!!! No chão. Chorando. Desespero - que se difunde com resquícios de raiva de segundos atrás que não secaram.
Levanto. O  sorriso forçado que eu enxergo, embaçado por lágrimas, não é nem de  céu, nem de inferno. Dor no peito.

Não morri sufocado pelo café tão quanto sufocado com a realidade que procede esses sustos em que quase morremos, mas se não morremos, então nada muda.

Outro suspiro alto avisa que o dia continua.
A caneta falha... Suspiro também.

– Ully Stella

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Que Acontece Dentro Do Abraço:


Ele veio junto com os ipês roxos do inverno; inverno difícil e nunca antes solitário. A encaixou num abraço estranho, mas com tanta vontade de abraçar, tanto calor para oferecer, e mais ainda, vontade de ser com ela, que ela aos poucos foi cedendo seu corpo aos espaços do corpo dele e foram criando os encaixes onde, aparentemente, não existiam. Mas era óbvio que aquilo nunca seria apenas corpóreo, mais honesto seria se assim fosse: só atração.. e racham a conta depois. Não. As necessidades que se transferiam de um corpo para o outro, dentro daquele abraço, eram necessidades antigas, com passado, contratos assinados, violados, concluídos; tinham argumentos, bagagem, sentimentos, muitos sentimentos, dores, desencantos, mas o que mais sobressaia de toda essa entrega de espírito que faziam sem querer, era uma vontade imensa e mútua de se encantar novamente, e sabe se lá porque, os dois achavam que dentro daquele abraço estranho, achariam. E achando, o abraço já deixaria de ser um estranho, também não seria um conhecido, nessa situação não caberia ser irmão, mas, marido e mulher não era coisa para se pensar ainda.

Veio estrangeiro, tendo visto quase tudo dessa vida, maduramente forçado, louco para ser garoto de novo, quando não era conhecido como o estrangeiro. O coração dela também era estrangeiro, mas que o peito a que ele pertencia, jamais havia saído daquele lugar, mas era um coração rico, que viajava em amores para não pagar imposto para razão que governava.

E com toda aquela diferença, com toda aquela falta de razões para se encontrarem, aqueles dois corações – o medroso e o desgovernado – aceleravam como quem leva um susto. E eram aquelas batidas fortes que transferiam toda a história para aquele momento, colocando os dois de frente, os fazendo quase incapazes de dizer não, os dando papel e caneta na mão para começar a escrever essa história.

E se você ai, está lendo essa história... Ah, então é por que foi mesmo verdade... Foi inegável o sentimento.  


Ully Stella