quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pigarro No Silêncio

“Falam de tudo. Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzisses, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos. Sobretudo falam do comportamento e falam porque supõem saber. Mas não sabem, porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente. Se sentissem não falariam.” – Nelson Rodrigues

É mais fácil para minha alma sobreviver a dias de fome de amor ou dias afogada em ilusões, expectativas e paixões do que passar por esses dias em que a cada minuto que passa se concretiza a certeza de que não lembrarei desse longo dia. Não senti fome, nem medo, não lutei com o acaso nem metralhei o mal... Dias sem motivos. É entre esses dias que a alma vai morrendo lentamente.
Herói de guerra vive de suas histórias, em que batalhou por sua sobrevivência, e quando enfim descansa, tenta ocupar seu tédio com honra, e na tentativa, sucumbi à loucura de suas lembranças. De nada vale méritos.
A honra daquele herói, habitava entre as palmas que recebeu... No seu coração acelerado, no seu choro preso - Herói  não chora. A honra acabou naquele pigarro de algum fumante em meio a platéia, durante o silêncio depois que as palmas acabaram.
Lutamos tanto para sair inteiros dessas guerras cotidianas, ou pelo menos vivos, para que um dia tenhamos a satisfação das palmas, da platéia, dos sorrisos, do orgulho de si mesmo. Mas o silêncio que prosseguiu as palmas que recebi, me deram o sossego que eu precisava para me frustrar e enfim perceber que, da minha guerra, eu não sai inteira. Minha única luta hoje, é para saber se sai viva.
Maldito silêncio, maldito pigarro, maldito orgulho que me prende ao desfecho dos meus sonhos realizados e me impede de buscar a outros, porque eu já deveria estar orgulhosa dos meus méritos. Antes eu tivesse perdido toda alma em batalha, mas me sobrou esses resquícios que só servem para me indagar o porque ainda estou aqui parada nesse palco vazio, sem músicos e apresentador, de frente pra esse mar de cadeiras vazias, com esse sorriso congelado de vitoriosa. Minha alma só serve para me perguntar: quem irá ver teu sorriso no escuro?
Frustração dói mais que doença, então farei uma cirurgia: Amputarei minha alma, implantarei  orgulho no lugar – é o que mais me sobra!  Porque, por mais morta que esteja minh’alma, com ela não terei morrido naquela guerra. Meu orgulho faz com que eu só viva daquela guerra.  Meu orgulho cresceu no silêncio sem palmas, enquanto minha alma morria com gritos de dor.
Amputarei a alma que me resta, morrerei na guerra, e enfim, sucumbirei à loucura.

– Ully Stella

Um comentário:

  1. Menina, Parabéns! Eu sempre dou parabéns a cada leitura sua que faço, pq vc sempre me convence da sua boa escrita e talento Ully! ahh, essa alma!rs...

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